Amores Perfeitos

Amores Perfeitos
Amores Perfeitos (arquivo pessoal)

quarta-feira, 31 de março de 2010

Luto

Este foi um dos meus primeiros poemas desta fase. Prestando mais atenção a uma das músicas da Amy Winehouse, percebi que ela fala, principalmente na última repetição do refrão, da mesma coisa. Copio o trecho, no final, para comparações.

Luto

Estou na luta para acabar com o meu luto.
Está difícil...
Mas ninguém me iludiu, a dizer que era fácil.
Só me mostraram como seria fácil digerir a alegria
E me prometeram um futuro feliz - "Hás de ser muito feliz!"

Mas o futuro não veio...
E o passado teima em se repetir no presente
Em se fazer presente
Em presentear-me com novas velhas ilusões.

Ilusões do passado?
Que paradoxo!
Mas a esperança não está no futuro?

Talvez seja o medo da desilusão do presente
Da promessa não cumprida do futuro
Diante do conforto do conhecido passado.

Célia Castro (C’)


Back to black
(Amy Winehouse / Mark Ronson)

We only said goodbye with words
I died a hundred times
You go back to her
And I go back to black

terça-feira, 30 de março de 2010

Outra vez a chuva

Primeiro, o arco-íris,
Então, veio o sol.
E o coração sorriu.
Outra vez a chuva,
Embaçando a visão,
Embaralhando os sentidos,
E a luz do sol sumiu.

O sol me aquece,
A luz me acompanha
E, na fotossíntese,
Produzo alegria.
A chuva chega,
Fico cinza por dentro
E, no correr das águas,
Chega a nostalgia.

Por que a chuva,
Outra vez a chuva,
Se o sol é meu amigo?
Se a chuva vem com a lua,
Não fico triste.
Mesmo não sendo mais tua,
Pois não estás mais comigo,
Lembro-me de outros amigos
Que chegam depois da chuva.

Depois das águas da chuva,
Depois do cinza dos céus,
Vêm as cores do arco-íris,
Se o sol estiver por lá.
Se a chuva vem com a lua,
Quando vai, deixa o brilho
Do sol na lua a brilhar.

Célia Castro (C’)

segunda-feira, 29 de março de 2010

Vem... e vai

Vem

Cada minuto que demoras
É um minuto que não volta, sem ti.
Cada vazio que deixas
É uma lacuna que deixo de sentir.

Vai

Se não quiseres vir,
Arranca de mim esta saudade,
Vai com ela, diz-me a verdade:
"Vou a chorar para poderes sorrir".

Célia Castro (C')

domingo, 28 de março de 2010

Saudade

Dizem que "saudade" é uma palavra que só existe na língua portuguesa. Nas outras línguas, há equivalentes como "sentir falta". Mas saudade, saudade mesmo como a gente sabe que sente, só aqui - no peito e na lusofonia...

Ontem, um dos meus ídolos da adolescência, Renato Russo, completaria 50 anos. Só hoje, na reprise do programa Altas Horas, pude ver a homenagem que fizeram a ele, com os demais integrantes da Legião Urbana e convidados. Chorei, não apenas por me lembrar e sentir saudades dele, mas também por me lembrar dos meus tempos de adolescente e de todas as coisas que ele dizia nas suas poesias/canções, presentes na minha vida e na vida de muitas pessoas até hoje.

Não me lembro de quem disse - vou pesquisar, a internet está aí para fornecer indícios - que a diferença entre "saudade" e "melancolia" é que a gente sente saudade do que viveu; a melancolia, por sua vez, é sentimento de quem deseja o que não viveu. Será? Se assim for, acho que "sofro" de "Saudade Melancólica".

Saudade

É saudade, ou apenas falta
O que sinto de alguém que já não está?
É saudade lamentar o que não se tem
Ou o que, na verdade, nunca virá?
Ou será melancolia, a dor que aparece todo dia,
Que insiste em me lembrar
De quem eu nunca esqueci?

Enquanto fica ao meu lado
A saudade do passado
Que, muitas vezes, não vivi,
Passa o tempo bem depressa,
A rir do tempo que perco
A pensar em voltar a ti.

Célia Castro (C')

sábado, 27 de março de 2010

Reconstruindo cacos

Junto tudo
E compreendo.
Junto você
E entendo
O que você não quis dizer
Quando eu quis ouvir.

Reuno os cacos,
Junto os pedaços
De cada parte,
Do todo que nunca foi.
A verdade despedaçada
De verdade não tinha nada,
E só foi vista quando eu te vi.

Agora penso se é verdade
O que eu conheço só por pedaços
De um todo que nunca vi.
Será que eu sei o que você sabe,
Sabe você o que eu não sei,
Sentiu aquilo que eu não senti?

Quanto tempo eu vou esperar
Até o dia em que vou encontrar
O pedaço dessa verdade
Que, na verdade, só você sabe
Mas imagina que eu também sei.

Célia Castro (C')

sexta-feira, 26 de março de 2010

Sobre máscaras

A inspiração para este pequeno poema veio de uma visita à exposição "OsGêmeos" neste mês de março, no CCBB Brasília. Nossa guia falava das máscaras existentes em alguns dos personagens da exposição e nos perguntou para que serviam as máscaras. A resposta veio mais ou menos assim:

Usamos máscaras
Para interagir com outras máscaras.
Trocamos de rostos
Como quem troca de amigos,
Como quem troca a pele,
Como quem esquece as lembranças.
Mas não trocamos olhares:
Embora passem pelas máscaras,
Não atravessam corações.

Célia Castro (C’)

quinta-feira, 25 de março de 2010

Amor Perfeito

É a minha flor preferida,
É o que todos querem na vida.
É bonita, mas não tem perfume.
É perfeito o amor sem ciúme?

É perfeito o que nos consome?
O seria perfeito apenas no nome?
Ou perfeita é apenas a flor,
E utopia um perfeito amor?

Tem as mais diversas cores,
E a vida, diversos amores.
Não se encontra em todo lugar,
E é difícil o amor encontrar.

Por isso, enquanto procuro
O perfeito amor, eu asseguro:
Se o amor perfeito eu não encontrar,
Existe a flor para me consolar.

Célia Castro (C’)

quarta-feira, 24 de março de 2010

A língua portuguesa e a arte de fazer amor

Hoje de manhã recebi um email de um colega com uma piada sobre a dificuldade de se "fazer amor" imposta pelas armadilhas da língua portuguesa:

"A língua portuguesa é difícil até para fazer amor!

AMÁ-LA ou AMAR-TE?

O marido, ao chegar em casa, no final da noite, diz à mulher que já estava
deitada :
- Querida, eu quero amá-la.
A mulher, que estava dormindo, com a voz embolada, responde:
- A mala... ah não sei onde está, não! Use a mochila que está no maleiro do
quarto de visitas.
- Não é isso, querida, hoje vou amar-te.
- Por mim, você pode ir até Júpiter, Saturno e até à ..., desde que me
deixe dormir em paz..."

Não resisti. Admito que fui um pouco arrogante, mas tive de responder assim:

"Duas soluções simples para este 'desentendimento', também recomendadas pela gramática portuguesa:

'Querida, eu TE quero amar.'
'Não é isso, querida. Hoje TE vou amar.'

O pronome pessoal do caso reto "eu" e o advérbio de tempo "hoje" atraem o pronome oblíquo "te" para antes do verbo, o que se denomina próclise.

Também é recomendável usar sempre a mesma pessoa ("Tu"/"Te" - segunda pessoa do singular dos casos reto e oblíquo, respectivamente), em lugar de começar com a terceira pessoa ("Ela"/"Lhe"/"La"), na primeira frase e, depois, mudar para a segunda pessoa."

E ainda acrescentei, em outra mensagem:

"Ah, me esqueci de uma terceira opção, esta recomendada pela sexologia: o marido melhorar o seu desempenho no leito nupcial. Talvez, dessa forma, a amantíssima esposa deixe de ignorar o destino dele..."

Não pude deixar de me lembrar do poeta Camões e da sua "facilidade" em descrever algo tão intangível e indescritível quanto o amor:

"Amor é fogo que arde sem se ver,
É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente,
É dor que desatina sem doer.

Há coisa mais bonita! Certamente, há! O que não me impede de admirar essa descrição do indescritível, essa antítese de sentimentos, essa quase sinestesia em forma de poesia (rimou!)

Célia Castro (C')

terça-feira, 23 de março de 2010

A tua aparição

A tua aparição é uma afronta,
Deixa-me tonta,
Abre um buraco no meu peito,
Não vejo jeito
De te arrancar das minhas vísceras,
Da minha mente,
Dos meus dias tristes,
Das horas alegres,
Dos momentos em que me esqueço de ti.

Minhas mãos tremem
Diante de ti.
Ainda que queimem
Os meus olhos pelo que vi,
Insisto em desejar mais do que tive,
Em viver mais do que vivi,
Em lembrar do que esqueci.

Por que me apareces
Com o teu sorriso,
Como se dissesses
Ao meu pouco juízo:
“Alegra-te ao me ver”.
Como a dizer,
Nos meus tristes dias,
Nos meus sonhos de névoa
Das minhas noites frias,
“É o que de mim podes ter”.

Célia Castro (C’)

segunda-feira, 22 de março de 2010

Dia Mundial da Poesia - com atraso...

Ontem, 21/3, foi o Dia Mundial da Poesia. Só me dei conta disso ao visitar o Cantinho Poético dos Amigos, comunidade de que faço parte no Orkut. Que vergonha! Deixar passar o dia sem uma referência neste blog! Mas não faz mal. Poesia se faz todo dia.

Segue a minha homenagem ao dia de ontem.

Beijos poéticos,


A minha poesia

A minha poesia não tem métrica,
Nem sempre tem rima,
Nem sempre é lirismo.
Às vezes, é tétrica,
Mais vezes, ironia,
Raras vezes, cinismo,
Mas é sempre poesia.

Célia Castro (C')

domingo, 21 de março de 2010

Sol entre nuvens

Ela não saía de casa. Não queria brincar lá fora. A desculpa era a chuva. Ele insistiu: "A chuva passa. Vem hoje. Amanhã, vou embora". E o amanhã veio. E ele foi embora. E o sol saiu.

Hoje fez sol. Sol entre nuvens. Mas consegui aproveitar o sol, sempre que ele "dava as caras". Acho que sou movida a energia solar. Deve ser pelo signo de Leão.

Há momentos - hoje, mais do que antes, sei que são momentos - em que o dia fica nublado, as imagens ficam "turvas", o sol desaparece. Aí, eu me lembro de que o sol volta. Ele sempre volta.

Hoje o sol está entre as nuvens,
Ele brinca de desaparecer.
Ele pode, é o "Astro Rei".
Eu que aprenda a brincar.
Eu que me lembre de dar
Boas vindas quando ele surgir.
Pois, um dia, se ele partir,
Terei a lua para me consolar.

sábado, 20 de março de 2010

Fazendo as pazes com o Sábado

Desde a minha adolescência, passei a não gostar dos Domingos. Para mim, era um dia triste, depressivo até. Como tantas outras pessoas com as quais conversei a respeito, ouvir a "musiquinha do Fantástico" me oprimia o peito. No meu caso, não por me lembrar que a segunda-feira estava a caminho, com os estudos e o trabalho da semana. Nunca me entristeceu nem cansou trabalhar ou estudar. Acho que a tristeza vinha do tipo de conteúdos que o programa mostrava, sempre com um quê de apocalipse, de excentricidade, de escatologia. Creio que fiz as pazes com o Domingo, embora não me agradem muito dias não úteis, com a revisão do conteúdo do programa...

Agora, passei a me angustiar com os Sábados, especialmente com a parte da manhã. É que os Sábados eram reservados, na minha adolescência, para uma espécie de "ritual da esperança" por um futuro melhor, mais divertido. Quem lê, até há de pensar que eu me produzia toda para "esperar alguma coisa de um Sábado à noite", cantaria Lulu Santos. Não. Na minha adolescência, era mais um dia de estudos, como outro qualquer. Também não podia sair de casa à noite. Nunca tive irmãos mais velhos - nem mais novos - nem parentes ou amigos próximos que me levassem ou acompanhassem nessas aventuras noturnas. Além disso, morava longe do centro, da badalação. É... não ia dar.

Depois, os Sábados se converteram em momento de proximidade com a família (minha mãe e meu pai), já que eu ficava durante a semana longe deles, no trabalho e nos estudos. Mais tarde, quando me casei, em oportunidade de ficar mais tempo com o meu então marido. Meu pai já se foi, minha mãe não me acompanha mais como antes, o marido já é "ex". Acho que foi isto: ficou um vazio onde já não existia muita coisa.

Por isso, o post de hoje é dedicado ao Sábado. Queria ficar mais tempo na cama, remoendo meu sono. Mas o sol petulante brilha lá fora e vem me afrontar como a dizer: "Sai já daí! Vem viver a vida que está aqui e não espera por ti". Acho que é isso o que vou fazer. Vou começar a fazer as pazes com o Sábado.

quinta-feira, 18 de março de 2010

Floresbelas em ação

Continuando a poesia e a homenagem aos poetas portugueses, segue um poema escrito a "quatro mãos" em parceria com a minha amiga, poeta inspiradora e incentivadora Vera Lage (Mazéh):

BUSCANDO SENTIDO...

Segue a vida no seu rumo,
Mas eu saí do meu prumo
E não consigo me encontrar.
Talvez você me apareça
Para pedir que eu me esqueça
Mais uma vez de te amar.

Mas é inútil o seu pedido,
Ainda mais para um ferido
Coração que te quer bem.
Passo as horas pensando,
Os dias me perguntando
Por que é que você não vem.

Quando você nem disse adeus
Naquela partida inesperada
Roguei aos céus uma prece
Para entender esta saída
Tão brusca,sem despedida...
Minh'alma ferida, atormentada

Tal qual um barco à deriva
Me encontro sem destino certo
À espera de hábil marinheiro
Surgir e um coração aportar
Na calmaria de doce despertar
Longe da espera de um futuro incerto.

Célia Castro & (Lage,Mazéh)
Brasília x Varginha
(03/03/2010)

Desprazeres

Que anseio é este
De uma alegria,
Da nostalgia
Do que não foi?

Seria, pois,
Só mais um engano,
Um desejo humano
De ser feliz?


E quem me diz
Que não há prazeres
Nos desprazeres
Que a gente tem?


Se há prazer
E se há sentido
Em sentir a dor
De amar alguém.

quarta-feira, 17 de março de 2010

Sobre máscaras

Segue um poema da minha lavra:

Sobre máscaras


Usamos máscaras
Para interagir com outras máscaras.
Trocamos de rostos
Como quem troca de amigos,
Como quem troca a pele,
Como quem esquece as lembranças.
Mas não trocamos olhares:
Embora passem pelas máscaras,
Não atravessam corações.

Célia Castro (C’)

terça-feira, 16 de março de 2010

Os Lusíadas - Canto I

Segue a estrofe em que Luís de Camões faz sua invocação às ninfas do Tejo:

E vós, Tágides minhas, pois criado
Tendes em mim um novo engenho ardente,
Se sempre, em verso humilde, celebrado,
Foi de mim vosso rio alegremente,
Dai-me agora um som alto e sublimado,
Um estilo grandíloco e corrente,
Por que de vossas águas Febo ordene
Que não tenham inveja às de Hipocrene.

 Fonte: CAMÕES, Luís Vaz de. Os Lusíadas. Porto Alegre, RS: L&PM, 2009, p. 18.