Amores Perfeitos

Amores Perfeitos
Amores Perfeitos (arquivo pessoal)

quarta-feira, 20 de março de 2013


Esperança

De onde é que eu tiro essa esperança
De que isto vai dar certo?
Deve ser porque, quando estás perto,
Volto a ter confiança.

Se ficas longe, entretanto,
Novamente me desespero,
Novamente cai-me o pranto
Por não vir o que eu tanto espero.

Espero ouvir-te dizer
O quanto gostas de mim,
O quanto te dou prazer
E que isso não terá fim.

Espero cada vez menos
E me tiras cada vez mais.
Encho o corpo de venenos
E a voz de tristes ais.

Então, penso em te deixar,
Ou serás tu quem me deixas?
Tenho medo de falar
E fugires das minhas queixas.

O que mais queria saber
É se não queres mais meu carinho.
Mas tenho medo de te ouvir dizer
Que preferes ficar sozinho.

Fico, assim, neste dilema
Difícil de resolver.
És para mim um problema
Mas não quero te perder.

Não sei se o que mais me apavora
É ouvir o que não quero
E vê-lo ir embora
Enquanto me desespero

Ou ter de enfrentar a mim
E à minha solidão
E ter de cuidar sozinha, enfim,
Da dor do meu coração.

quarta-feira, 6 de março de 2013


Angústia

Que monstro é este que cresce dentro de mim,
Enche-me o estômago e aperta-me a garganta,
Deixa-me trêmula, pressentindo o fim,
Embota-me a visão com sua pesada manta?

Brinca comigo, faz-me rir e chorar,
Finge que se vai, mas continua à espreita,
Aperta-me o peito, não me deixa respirar,
Deixa-me plena e, ao mesmo tempo, insatisfeita.

“É o monstro da angústia”, diz a voz da experiência.
Se já lhe sei o nome, basta-me encontrar a cura!
“Como te enganas”, avisa-me aquela voz.

“É inglória a luta, e o caminho é o da loucura”,
O combate verdadeiro se trava dentro de nós
E, para este mal, não há remédio nem ciência.

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013


Inspiração fugidia


Às vezes sinto o peso do vazio:
Um não-sentir que me enche de apatia,
Um não-esperar mais do que o passar do dia,
Um mar de chances para o qual não há navio.

“Não me abandones!”, apelo à inspiração.
“Por que não vives, então?”, ela responde inquiridora.
Pois, para a poesia, uma alma sofredora
É necessária para falar ao coração.

Mas ainda posso ser feliz e escrever,
Palavras não nascem só da dor,
Métricas não cabem só no drama!

Mas quem quer ser poeta e não ama,
Quem não sente do desejo o calor
Não conhece a beleza de sofrer.

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013


Gata que ladra

Embora vivendo com gatos,
Rodeada de amor, com vontade de acertar,
De cão bravo rotulam os meus atos,
Talvez seja por eu tanto ladrar...

“Ela é brava”, dizem os desavisados
Que pouco me conhecem ou desejam conhecer.
De fato, temem os que não ficam calados
E que mostram, no primeiro contato, aquilo que não parecem ser.

Confundem gentileza com hipocrisia,
Já dizia meu pai, e eu não entendia
O que ele falava, quando também repetia:
“Enquanto falo, está tudo bem; temam se eu me calar um dia...”

Nos relacionamentos, é sempre bom lembrar:
Quando o outro rosna, é por ainda querer acertar.
Portanto, amigos, cheguemos a um acordo:
Eu lato, mas não mordo!

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013


Eloquência

Tanto a dizer, nada pra falar.
Como eu queria falar contigo,
Perguntar verdadeiramente como estás
E ouvir uma resposta verdadeira, definitiva, consoladora.
Uma esperança ou uma pista
Para eu parar de sofrer... ou de esperar.

Como nos encerramos neste silêncio,
No desespero destas meias-palavras?
Mas, então, eu me lembro de que a angústia talvez seja só minha.
Tu tens mais em que pensar e, certamente,
Não deves sentir esse silêncio,
Não como eu sinto,
Ensurdecedor, eloquente, cheio de vazios
A ecoar dentro de mim.

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

Entre
Pensamento-Condicionado
Mantenha esta boca fechada
Bênção e maldição

Deu-me Deus inteligência
Para sozinha crescer.
Só não me ensinou a ciência
De aprender a viver.

Inteligência é uma bênção,
Muitos ainda dirão.
Mas, como eu, há os que pensam
Que pode ser maldição.

De que nos vale a “audácia”
De analisar o que se vê
Se nos faltar a perspicácia
Dos que fingem não saber?

Ter “olhar de paisagem”,
Deixar perguntas no vácuo,
Não entender a mensagem.
Meu Deus, por favor, dai-me saco!

São os sonsos mais felizes,
A vida sabem aproveitar.
Não têm as cicratizes
De quem se vive a preocupar.

Em si mesmos só pensam,
E ainda temos de perdoar
A dor imensa que causam:
“Coitados, não sabem amar”.

E nós, que amamos e sofremos
E até pensamos “demais”,
Vemos o que aprendemos
Não valer para nada mais.

Para quê tantos valores?
Os idiotas estão na moda.
Nem sequer sentem as dores
Deste mundo que está foda!