Amores Perfeitos

Amores Perfeitos
Amores Perfeitos (arquivo pessoal)

quarta-feira, 21 de abril de 2010

Cinquenta anos - sem trema, sem tremor, sem temor

Hoje, a minha cidade comemora cinquenta anos. Digo "minha cidade" pois, mesmo sem ter nascido aqui e nem ter escolhido para cá vir e morar, adotei Brasília como minha, mesmo com todo o seu "Tédio com um 'T' bem grande para você", mesmo com a estreita relação com a política - e a visão pejorativa que esse envolvimento, muitas vezes, acarreta.

Gosto desta cidade não tanto pela arquitetura, pelo céu, que é "a nossa praia", ou pelos amplos espaços e áreas verdes. Gosto desta cidade porque, aqui, venho construindo a minha história. Aqui, filha única de pais maduros, "escolhi" os meus irmãos de alma. Esses, talvez, tenham mais valor do que os irmãos de sangue, porque nos escolhem e são escolhidos por nós.

Aqui estudei e estudo, trabalho, tenho alegrias e desilusões. Tive, tenho e terei meus amores e meus desafetos - quem não os tem?

Brasília chega aos cinquenta sem que eu deva mais escrever essa palavra com o trema. Tenho de confessar: eu adorava o trema! Fascinava-me esse "apêndice", esse rococó barroco, como um arremate, um laço de fita, um broche a destacar a beleza da palavra, a reforçar a necessidade de se procunciar o "u" diante do "e" e do "i". Sou assim, meio minimalista, meio barroca. Vá-se entender...

No ano que vem, também entro nos "enta". Estou até a planejar, com certa antecendência, a celebração desse importante evento para a história da humanidade (ha, ha, ha). Já tenho, inclusive, nome para a festa: "Aguenta (oh, céus, sem trema!), que eu estou entrando nos 'enta'!" .

Dizem os antigos que, entrando nos "enta", não se sai mais de lá. Os mais modernos, otimistas e crentes nos avanços da medicina já falam da possibilidade de se romper a barreira dos "cem". Imagino um mundo povoado de centenários... acho que só vale a pena, entretanto, se a minha cabeça puder estar "inteira", se as lembranças dos meus cem ou mais anos de existência puderem acompanhar este corpitcho. Sem lembranças, boas ou ruins, distantes ou recentes, não vejo grande vantagem em sair dos "enta"...

Além da falta do trema, é bom que se lembre a ausência de tremores nesta terra abençoada - pelo menos, dos abalos sismológicos estamos livres. Dos abalos de outra natureza, entretanto...

Também espero que estejamos, nós e a cidade, livres de temores. Eu, só bem recentemente, comecei a enfrentar os meus. Foi preciso um abalo sísmico considerável na minha vidinha para eu criar essa oportunidade - e essa coragem. Às vezes, dói. Muitas vezes, desanima. Mas, quase sempre, torna mais forte a "carapaça" - até para proteger a suavidade do coração.

De qualquer forma, vai aqui a minha singela e nostálgica homenagem aos cinquenta anos de Brasília. Que mais e mais cinquenta anos venham, sobretudo se forem acompanhados de boas e não tão boas lembranças: que o nosso povo se lembre do que é bom, mas se lembre, também, de quem não cuidou bem da cidade e do país. Que a nossa população seja cada vez mais educada e possa ser um exemplo para as gerações vindouras, as que, afinal, estarão aqui para os próximos cinquentenários - sem trema, sem tremor, sem temor.

Célia Castro (C')

5 comentários:

  1. Querida, impossível seria não te encontrar num espaço pessoal, personal e único, como você. Muito gostoso te rever por esses ares e por esses mares. Eu, como Brasília,e com os mesmos marcos, entrei nos cinquenta, destremada e destemida. Agora, o que mais temer nesta vida?! Devo nada a ninguém e se aos cem chegar, sem dores e só dolores, por que não o desejar?! Saudades de nossas conversas da vida... bjo grande!!!

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  2. Amiga, essa Artesanía Brasilis aí sou eu, Lucinha Leninha... Outra face de minhas facetas... bjão

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  3. Ah, Lucinha, agora sim!
    Que bom encontrá-la aqui também :-D
    Vou descobrir mais dessa sua artística faceta!
    Beijos Mil!
    C'

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