O título não deveria ser esse. Respeito muito as palavras, sobretudo as da língua portuguesa, para brincar com elas.
Na verdade, elas é que brincam comigo. Explico: estou há quase duas semanas com um "bloqueio de insipiração". Não "pari" nenhum poema nos últimos dias! Começo a ficar preocupada. Quando criança, escrevia com facilidade coisas poéticas e líricas. Inclusive, fazia histórias em quadrinhos, com direito a desenhos meio surrealistas - era um verdadeiro "storyboard".
Depois, com o desestímulo dos adultos, deixei de lado esse meu lado - ôpa, olha as palavras brincando comigo de novo!
Esperem um pouco que eu vou tentar:
A magia das palavras
Eu queria ter o dom
E a mais nobre habilidade
De fazer de cada som
Um soneto de saudade.
Eu acho que o meu problema,
Na verdade, é um desafio:
É que eu quero o meu poema
Com rimas "de fio a pavio".
Então, fica mais difícil
Escolher palavras certas.
Ainda mais se, no início,
Estiverem encobertas.
Encobertas pela bruma
Da inspiração ausente,
Que impede que se consuma
O que a nossa alma sente.
E, o pior, é que me parece
Que quando estou muito triste
O poema logo acontece
E a inspiração já existe.
Quando estou feliz, entretanto,
As palavras me esquecem.
Busco-as em cada canto
E elas não me aparecem.
E é aí que elas vêm, altaneiras,
Para me dizer:
"Somos tuas companheiras
Quando estás a sofrer.
Mas quando te encontra a folia
Pareces de nós esquecer.
Lembra-te, amiga ingrata,
De nós também na euforia.
Se servimos para consolar
As tristezas do teu dia a dia
Que também te lembres de nós
Para celebrar tua alegria".
Espero, com esta tentativa, ter feito uma reconciliação com as minhas amigas palavras.
Célia Castro (C')
terça-feira, 20 de abril de 2010
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Minha querida C',
ResponderExcluirComeçando do fim, mas falando de começos: belíssima a imagem da Tágide. A água, seu ser, seus seres e mistérios sempre exerceram um enorme fascínio sobre todos nós. Não poderia ser mais poética a imagem, nem menos terna a lembrança e o motivo do batismo do blog. Parabéns pela delicadeza e pelo bom gosto.
Já se disse "felicidade não faz poemas". Concordo e entendo. A felicidade é para ser vivida, e não transformada em palavras. As palavras preenchem vazios, carências humanas, ensinam, enganam, curam (e criam) feridas, disfarçam, seduzem... Falam até de si mesmas, as danadas! É a tal da metalinguagem (como agora).
Não tive uma infância e uma adolescência que tenham me deixado grandes saudades. Como vida de pobre é o reino de Dona Carência, saciava minha fome de um mundo melhor com palavras (a maioria delas escritas por Monteiro Lobato, naquela, sobre todos os aspectos, fantástica coleção do Sítio do Picapau Amarelo, que eu lia em livros re-reencadernados da biblioteca do SESI de São João del Rei). Muitas outras vieram de histórias em quadrinhos de temas variados, que me ajudavam a escapar da desanimadora falta de brilho do dia-a-dia.
Hoje, as condições materiais mudaram muito, mas percebo que, como há muito tempo, vivo das palavras. Preciso delas para professar algo, já que sou professor. Embora muito distante da capacidade e engenhosidade de Luís Fernando Veríssimo, sou, como ele, um “gigolô das palavras”.
Caro Marcelo,
ResponderExcluirQue lindo o seu comentário! Seus textos são sempre extraordinários. Você domina, com precisão, as palavras. Nos seus textos, elas traduzem, com objetividade e elegância, os sentimentos. Sou mais uma na legião de fãs e aprendizes do Mestre Marcelo!
Obrigada pelo carinho!
Beijos,
C'